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Se tu tivesses memória, gravavas as minhas palavras. Se eu tivesse memória, gravava-te em mim.

quando as estrelas falam

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    Debaixo das estrelas, a falar de amores, desamores, sonhos e dúvidas. Não havia caras, só vozes. E essas entravam pelo coração como um sopro de vida e insuflavam-no, mantendo-o vivo.      Ninguém mostrou sentimentos, só ideias. E como voavam elas por entre as estrelas. Eram muitas, belas, assustadoras, mas só ideias. Uma voz suave diz: o amor não dura porque estamos demasiado cansados para lutar. Uma voz irrequieta, inconformada com tal afirmação responde: não, o amor não vive porque não queremos que viva.    Uma cara aparece, alguém se levanta, indignado com as ideias que acabaram de voar. Volta a desaparecer. "O amor vive quando queremos ser felizes e precisamos dele para tal", ouve-se vindo de uma voz segura, de quem tem a certeza do que diz.

Soou fácil e possível

      Mas vai haver um dia em que o meu corpo humano não suportará o peso, o tamanho, o valor do meu coração que transbordará de ti e de nós. Nesse dia eu terei de partir. Terei de abandonar este corpo porque será pequeno de mais para nós, para mim, para ti. Mas não tenhas medo. Para sempre. (Não acredito, mas dito por ti soou fácil e possível)       Dá-me apenas tempo para encontrar uma forma de voltar. Virei visitar-te todas as noites, porque para sempre é o tempo que eu quiser .

Era...

Durante meses escreveu na primeira pessoa. Sentia e escrevia. Era ela, ele, tinham nomes, tinham sentimentos, tinham vida. Um dia apercebeu-se que escrevia na terceira pessoa; que já não era ela, já não era um sentimento dela, nem dele, nem de ninguém. Era um sentimento, mas não lhes pertencia.

Memórias #2

O tempo é o que eu quiser E eu quero para sempre .

Memórias #1

Uma noite dei por mim a observar-te ao computador. Enquanto eu trabalhava ocupavas os teus olhos longe dos meus e sorrias, por vezes. Não me olhavas para não me perturbares, mas muitas foram as vezes em que não evitei desviar o olhar das palavras, das frases, de tudo o resto que me parece agora tão menos importante do que ver-te aí, na mesa, em frente ao computador, a cantar, a sorrir. E dei por mim a sorrir também, por poder ver-te aí, por poder viver contigo, por poder amar contigo.

Carta de (des)amor

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Amor, hoje acordei e já não chorei. Ainda batalho com a falta de clareza da minha cabeça, mas o meu coração já se rendeu. Já está calmo. Esta não é uma despedida física, como as outras. Mas é uma despedida do nosso amor. Do meu, pelo menos. Por enquanto, pelo menos. Gostava que esta fosse uma cena de um filme, daquelas que duram apenas o tempo de uma música triste. Se algum dia sentires a minha falta, e te apaixonares de novo por mim, sabe que no momento em que abrir a porta e te vir ter-me-ás conquistado de novo. Outras pessoas me farão feliz, mas nenhuma me terá tão completa como tu. Para sempre, Inês.

Pilhão

Se mpre achei que as relações são como as pilhas. Umas são pequenas, outras são pesadas. Umas são fáceis de arranjar, outras são difíceis de serem encontradas. Há até algumas que são feitas de componentes especiais, e outras que são perigosas. Umas duram pouco tempo, outras podes recarregar. E a única coisa má destas é que enquanto recarregam tens de esperar.

Um filme quase meu.

Se isto fosse um filme, numa das noites em que adormeço a chorar apareceriam uns segundos pretos e eu acordaria dez anos depois. Estaria a fazer a minha vida normal. Se calhar teria mudado de cidade e de emprego. Estaria longe dele, se calhar. Tê-lo-ia esquecido, se calhar. Pelo menos teria parado de chorar. Podia ter um cão em vez de uma família. E beberia leite frio de um copo grande que ficaria sempre em cima da mesa, para o arrumar quando voltasse a casa, sozinha, ao final do dia. Podiam mostrar-me a passear pelo jardim com aqueles copos de café e com o cabelo penteado, apesar do vento. E podiam mostrar os segundos em que o mundo pararia porque fui contra ele. Tinha um saco de compras ao colo e estava ao telemóvel com a mãe, que liga todos os dias… E se fosse um filme, apaixonávamo-nos outra vez, ou perceberíamos que nunca deixámos de o estar.

No amor e na guerra não vale tudo.

O amor não é como a guerra. Porque a guerra é para guerreiros e o amor é para amantes, que embora tenham muito de guerreiros, não o são. Acho que já não estou a fazer sentido. É por isso que sou uma amante e não uma guerreira. Na guerra faz-se um plano, traça-se uma estratégia. E, aconteça o que acontecer, cumpre-se o plano. Haja as baixas que houver, haja um cm2 de sangue ou um rio. Segue-se o plano e vence-se. E no amor? Traças um plano? Não vale de muito... E a quantidade de sangue importa. E entranha-se e deixas de conseguir seguir em frente. No amor não há cavalos. Andas a pé. E cansas-te. 

Sem toalha, sem frio.

Uma conversa sobre o meu medo do mar. Meios a cambalear na areia. Estávamos sozinhos, afastados dos restantes, que durante uns minutos não foram mais do que música de fundo. Não sei quem empurrou primeiro, mas caímos na areia e rimo-nos como dois adolescentes. Como se eu não tivesse acabado de refazer o meu coração e como se tu não tivesses o teu nas mãos. Tinha areia no cabelo e tu lançavas palavras que eu não percebia. E foi tudo ao contrário: pés para cima, cabeça para baixo, não tínhamos toalha e não tínhamos frio. Era de noite e a pouca luz só dava para ver os sorrisos. As gargalhadas ouviam-se a metros. Escrevi todos os pormenores numa folha porque sabia que não te ias lembrar. Podíamos lá voltar hoje. Eu saberia o sítio exato onde decidiste provar-me que eras capaz. Foi há um ano e já me fizeste nadar no mar.

Rabo quadrado, felicidade adiada... pelos exames!

Por entre os livros que já li e os que ainda faltam ler, as folhas soltas que, de tempo a tempo, voam para outro sítio por já não saber onde pertencem, os post-its colados pelo computador, pela mesa, pelas folhas, os cadernos onde faço rabiscos em vão, na esperança de captar algo, paro e tento perceber que sentido fará isto. Estas dores de costas, este tambor na cabeça, o queixume constante a pedido do cansaço. Estas horas – claramente – perdidas, na tentativa de perceber algo que não só não faz sentido agora como provavelmente nunca fará. E fazendo, não já será tarde, porque o exame já terá passado. Depois de já ter mudado de posição na cadeira mais do que muitas vezes, apercebo-me que até ela já se fartou de mim aqui. E tem assistido à contagem: dois cadernos já escritos, três canetas já gastas e quatro promessas de cafés já quebradas. Entre dormir, comer, aulas e estudo, pouco tempo resta. E esse – tão raro – é ocupado a pedir desculpa pelo humor (ou falta dele) ou pelo ner

Amor desalinhado.

Mas quando ouço alguém dizer que o universo se alinhou para que pudesse conhecer a pessoa que ama, fico confusa. Não percebo. É preciso um universo inteiro decidir caprichosamente que se vai alinhar para que duas pessoas 'sejam' juntas? Não quero o meu amor por ti nas mãos do universo. Quero-o nas minhas. Nas tuas, quanto muito. E já tenho medo de o ter nas mãos. Assim só te posso abraçar com metade do meu corpo, e só te posso prometer com um dedo mindinho. É preciso um universo inteiro alinhar-se? Acho que somos maiores do que o universo, porque o meu mundo teve de se desalinhar para que eu te pudesse conhecer. Ou não acredito no universo, ou acredito demasiado em nós. Ou na dose certa, que me parece demasiada agora que vencemos o universo. E quem vence o universo, vence o tempo e a distância e o mal e o próprio amor, se preciso. Mas enquanto recuperas desta última batalha com o universo, eu continuo a olhá-lo e a pensar que fomos os primeiros,

enquanto isso, o alpendre faz-me companhia...

E ali estava ela, sentada no alpe ndre, à espera dele. O sol começara a descer e já havia uma pequena brisa que a incomodava. Mas ela não desistia. Queria vê-lo chegar, sentir o seu coração tremer assim que visse a sua sombra ou ouvisse os seus passos. O sol pôs-se e ela não mexia um músculo com medo que o barulho do seu corpo a impedisse de o ouvir chegar. A lua já beijava as estrelas e ele ainda não tinha chegado. Interrompendo o seu romance, falou com elas a noite toda. O sol voltou de novo e ela, que tinha resistido à gélida noite, ainda estava no mesmo sítio, à espera de uma promessa antiga: no primeiro dia do mês quente venho para te beijar. Quando o sol já estava a olhá-la de cima, levantou-se e foi para dentro. O sol chorou, as flores adormeceram e a água calou-se porque tinha morrido mais um amor. Ela voltou pouco depois com um casaco e sentou-se no mesmo sítio.

um passo ao lado, um amor perdido.

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E passamos dias, e horas, a percorrer uma cidade tão nossa como deles. E passamos horas e dias a fingir algo que não somos. E beijas-me e sorris para mim. E vicias os meus lábios e os meus olhos. E quando já estão totalmente viciados, quando já não conseguem percorrer uma cidade sem te verem ou sem te tocarem, dás um passo, e este não é em direcção a mim, que neste momento já ganhei lance na descida e já corro para ti. E dás um passo para longe.   Alguém me apanha, do chão ou lá ao fundo, onde finalmente consegui parar. E tu continuas a sorrir para mim e a chamar-me. E volto a correr para ti. E voltas a dar um passo. E penso que um dia me vou cansar e vou dizer-te que espero por ti aqui, mas que não corro mais. Que um dia me vou cansar e vou dizer-te "Corre tu até aqui", porque a distância que nos separa é a mesma e as tuas sapatilhas não estão tão gastas como as minhas.         E penso em tudo isto enquanto corro para ti outra vez. E sei que vou pensar sempre isto

(...) uma maior de coisas ainda melhores.

Sentei-me na estação, à espera de um comboio que não sabia se ia chegar. E quando te pões nesta situação, pensas em tudo menos naquilo em que devias focar a tua atenção. Ao olhar à minha volta vi um rapaz. Bonito. Meio loiro. E comecei a pensar que às vezes há a tentação de pensar "com ele seria mais fácil". Com ele seria tudo do zero, seriam mais dois meses de fantasia - aquela do início, quando tudo é novo. Seriam mais dois meses a ouvir os pássaros cantar no parque - mesmo que chova torrencialmente e tu nem tenhas saído da cama. Há essa tentação. Ele é mais divertido.  NÃO!  Simplesmente ele ainda não sabe os teus defeitos. Ainda não sabe o que o chateia em ti. E apercebo-me que não prefiro isso. As relações de algum tempo, às vezes, tornam-se complicadas e cansativas, porque já sabemos algumas coisas más da outra pessoa. Porque somos forçados - quer queiramos ou não - a aprender algo novo todos os dias. Bom ou mau. Mas eu acho que prefiro isso. Prefiro já ter

Uma cama do nosso tamanho.

Se partires de manhã, dá-me apenas um beijo na testa. Não me acordes. Nunca gostei das tuas costas, muito menos vou querer vê-las uma ultima vez. Um beijo na testa chega para eu perceber que não vais voltar. E foi o melhor beijo que me deste. Um beijo de despedida. Na testa. E eu acordei. E fiquei a pensar quem te acordaria no dia seguinte. Quem te abraçaria na manhã seguinte. Acordei umas horas depois e decidi que ia levantar-me. Que ia ser de ferro e ia ser a mão, o pé, a cabeça, mas nunca o coração. Não hoje. Hoje não quero ser o coração. Dei-te um nome, um dia. Só eu o sei. É ele que te vai abraçar amanhã. Eu não. Eu já não sou o coração. E voltas do nada, como se tivesse sido um sonho, como se nenhuma palavra tivesse voado, nem nenhuma lágrima tivesse teimado em cair. O que eu faço? Arrasto-me para o lado. Estive a aquecer o teu lado da cama. E penso que da próxima vez que me deres um beijo na testa, vou comprar uma cama mais pequena.