um passo ao lado, um amor perdido.



E passamos dias, e horas, a percorrer uma cidade tão nossa como deles. E passamos horas e dias a fingir algo que não somos. E beijas-me e sorris para mim. E vicias os meus lábios e os meus olhos. E quando já estão totalmente viciados, quando já não conseguem percorrer uma cidade sem te verem ou sem te tocarem, dás um passo, e este não é em direcção a mim, que neste momento já ganhei lance na descida e já corro para ti. E dás um passo para longe.  
Alguém me apanha, do chão ou lá ao fundo, onde finalmente consegui parar. E tu continuas a sorrir para mim e a chamar-me. E volto a correr para ti. E voltas a dar um passo.
E penso que um dia me vou cansar e vou dizer-te que espero por ti aqui, mas que não corro mais. Que um dia me vou cansar e vou dizer-te "Corre tu até aqui", porque a distância que nos separa é a mesma e as tuas sapatilhas não estão tão gastas como as minhas.
        E penso em tudo isto enquanto corro para ti outra vez. E sei que vou pensar sempre isto, porque, na verdade, por muito que o pense, durante esta ofegante corrida, há um segundo - uns segundos - em que acredito que desta vez vais ficar aí e segurar-me.
        Porque dizer a todos que sou tua  mas dar um passo ao lado não é ser meu. É estar ao meu lado. E entre o ser e o estar está a distância entre dar um passo ou amar. Entre ter-me ou não me ter.


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