Listas e mãos que fogem

Cheguei a casa e no momento em que pus a chave na porta percebi que não sou a mesma. Desde o momento em que fechei esta mesma porta umas horas antes, tudo mudou. Tudo é, talvez, um pouco exagerado. Mas alguma coisa em mim mudou.
Sentei-me e tentei fazer uma lista do que tinha mudado - sabes como gosto de listas, listas de compras, de tarefas…

Ainda sem pensar bem, a minha mão escreveu:

                - Gosto de ti.

E isto não é algo que tenha mudado. Mas é algo que se mantém. E até nas mudanças, a continuidade é importante.

E a lista continuou. Percebi que pela primeira vez em algum tempo voltei a sentir-me de alguém. Não no sentido sufocante de falta de liberdade, de pertença. Mas no sentido de ter alguém que toma conta de mim, alguém que num grupo de pessoas olha para mim e sorri. Alguém me que faz sentir mais eu no meio de uma multidão.

                - Mais minha.
                - Mais tua.

E memórias. Sou pessoa de memórias. Sempre fui. Baús, fotografias, flores secas, bilhetes, pedras. Guardo tudo. «Só se tiveres alzheimer é que te esquecerás do dia de hoje». Verdade. Mas jogando pelo seguro - tão eu - começa-se uma nova tradição. E, de repente, parece que vejo o futuro. Nós, sentados, a ver fotografias nossas de quando eramos moços, de quando eu tinha pernas para usar um vestido e tu tinhas muito cabelo.

                - Lá de baixo tiram-nos fotografias. Quero ficar aqui contigo até serem a preto e branco.

E um futuro. Todos os dias fazemos pela nossa vida, pelo nosso futuro. Mas há momentos que podiam ser congelados no tempo como exemplares dessa luta.

                - Luta por um futuro.

A caneta fugiu-me da mão. E a mão fugiu da caneta para apanhar a mais recente memória que tenho nossa. E com a mão fugiu uma lágrima. De felicidade, neste momento.

«Hoje voltei a apaixonar-me por ti.»

                - o-meu-punho-contra-o-teu-punho

Tantos truques tão ridículos quanto nossos. Esses pormenores que me fazem tão tua e que te fazem tão meu. E que nos fazem tanto juntos.


                 - «a caminho dos muitos»,
                 - Para sempre.

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