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A mostrar mensagens de 2011

Não te prefiro.

E quando as memórias não chegam, quando precisas de objectos para te lembrares dele e do seu cheiro. Quando olhas para as tuas mãos e não consegues ver as dele ou quando te vês ao espelho e não o vês nos teus olhos… Sabes que largaste a mão, que o deixaste partir, que o deixaste voar de ti. E agora é livre. És livre, ouviste? Sai daqui, voa. E, por favor, não voltes se não quiseres contar os dias pelos dedos comigo. Ou se desenhar no vidro embaciado do carro não for divertido para ti. Não voltes se duas gotas a competirem entre si pelo final do vidro não forem emocionantes. Se não conseguires fazer uma gargalhada acompanhar uma lágrima porque escrevi o teu apelido depois do meu, por favor, não voltes. Voa. Porque se não consegues ser feliz ao meu lado, prefiro-te longe. Não te prefiro.

Viagem,

E fazem os planos da viagem juntos. Embarcam juntos e vêem os primeiros nasceres do sol juntos. Mas lá no meio o mar é mau e faz o barco balançar. Os medicamentos para o enjoo não resultam e já não vêem o nascer do sol juntos. E um dia acorda e é só ela no barco. Já não são dois, apenas um. Nesse dia não há nascer do sol. Só um barco e uma costa e ela promete-lhe que a verá em breve, mas é só um a remar.

Eu esperei.

Esperei por ti como quem espera por uma criança que insiste em subir as escadas agarrada ao corrimão, sem ajuda. Esperei por ti como quem espera por uma carta que sabe que só chega daqui a 3 dias. Não interessa como. Eu esperei.
Não escrevo sobre ti porque te quero só para mim.

Epidemia de moscas,

E foi ali, no café de sempre, que percebi que o amor é como uma mosca. Anda à tua volta a chatear-te. A maioria das vezes ignoras, ou fazes um gesto repentino e brusco que a afasta durante uns instantes. Ela acaba por voltar. Outras vezes tentas apanhá-la, mas quanto mais tentas, mais ela foge. E olha como ela voa para longe. Já reparaste que sempre que a apanhas, ela morre? Ou a tentas agarrar com tanta força que a matas, ou tentas guardá-la eternamente dentro de um copo e ela acaba por morrer sem ar, sem o mundo. E foi ali, no café de sempre, que percebi que se o amor é uma mosca, vou continuar a sentar-me na mesma mesa, de costas para aquela caixa que mata as moscas, porque para matar o amor já temos muitos aparelhos.

idade,

E num ápice chegas a uma idade em que desejos são caprichos, amores são paixões e promessas são mentiras a longo prazo. Se fores como eles, acreditas.

um mundo (teu), se quiseres.

Dias. Apenas dias. Ou noites, como queiras. Foi o necessário para me agarrares e prenderes a ti, como se me abraçasses e marcasses no meu corpo o teu. Mas a culpa é minha. Eu é que deixei que o fizesses. Um dia fizeste-me sorrir. Uma noite beijaste-me e marcaste em mim o teu sorriso também. Agora sorrio por mim e por ti. Por mim, porque te tenho; por ti, porque não me tens. Não me queres ter ou não me sabes ter. Respiras, sonhas, pensas, vives. Mas não me respiras a mim, não sonhas comigo, não pensas em mim nem me vives. Por isso, por mim, por ti, pega no teu coração e mostra-o de uma vez. Abre-o nas tuas mãos e deixa voar os medos, os passados, os segredos. Elimina um amor teu, para poderes teu o meu. Quando o fizeres estarei aqui. Serei eu, tu, uma toalha, uma praia e um mar só nosso. Se vieres, seremos nós e um mundo. E o mundo será meu, porque aprendeste a ter-me.

Quentinho no peito e arrepio nas costas.

Sem mais nem menos, entrou pela sala, como se fosse um vento que sopra com força. E o efeito nos que lá estavam foi mesmo esse: um incómodo que sabe bem. O cheiro, o jeito de andar, o seu sorriso inocente; tudo incomodava, não deixando ninguém despercebido. Todos a olhavam. Ela fingia ser invisível. Muito cautelosamente, entrou pela sala, como se fosse um raio de sol. E o efeito foi mesmo esse: um quentinho no peito e um arrepio nas costas. O cabelo despenteado, o à-vontade dos seus movimentos, o seu sorriso tão incomodativo como viciante.   Um silêncio na sala. Ninguém o olhou, só ela. Sozinha, no seu canto, sentiu um quentinho no peito . O arrepio nas costas sentiu-o quando ele a abraçou.

Quando fores tu.

No dia em que fores feliz, chama-me. Grita por mim, se for preciso, porque terei todo o prazer em ver um Tu que não conheço. Melhor, no dia em que aprenderes a ser tu, chama-me que eu ensino-te a ser feliz .

Ave.

Senta-te ao meu lado. Põe o teu braço à minha volta e protege-me. Espera que eu consiga respirar e dá-me espaço para isso. Quero-te ao meu lado, mas não consigo ter-te aqui. Já te sentiste como se estivesses a sufocar, mas quisesses estar nesse sufoco? Quero-te aqui. Fazes-me sentir melhor pessoa, especial, única, até. Quero-te aqui, repito. Mas dá-me espaço. Deixa-me respirar. Se pedir para me largares, para me deixares voar sozinha por uns momentos, não fiques triste. Sou eu. Uma ave selvagem. Podes manter-me em cativeiro, mas só por alguns momentos. Mas pensa. Pensa, mas não me largues. Abraça-me mais que só assim não chega. Pensa que és um sortudo. Pensa que tens esses minutinhos, esses pequenos momentos para me teres para ti, inteira, sem armas, sem muralhas. Só eu. Só ave . Mas quando for selvagem, quando tiver de ser selvagem para sobreviver, deixa-me. Não me prendas. Não queiras ser o meu dono. Não queiras porque não deixo. Não sofras, eu sou assim. Leve e suave uns dias;