Uma ponte. Meio caminho.


Vem ter comigo. Vem. Procura-me.
Vem. Porque só assim vais perceber o quão longe caminhaste nessa estrada que não vinha até mim. Por isso, anda. Desta vez segue as placas, as indicações. Não te ponhas a olhar para os pássaros. Do meio das folhas eles podem parecer muito bonitos. Irresistíveis. E distrais-te a assobiar belas melodias para eles. E quando se cansam ou tu tropeças numa pedra e trocas uma nota, voam. E como são todos parecidos, nunca mais te lembras para qual cantavas.
E mais à frente encontras um monte de placas. Mas em vez de lhes prestares atenção, sentas-te para descansar. E no momento em que te sentas, as nuvens captam a tua atenção. As placas que te levavam a mim? Estão lá atrás. O caminho para mim. O caminho para ti. Cada vez mais longe.

Construo uma ponte, para poderes voltar ao sítio certo. Um atalho. E como eu tenho medo de pontes. E construí uma só para ti. Olhaste para ela e foste até meio. E a meio paraste. Respiraste fundo e ficaste a apreciar a paisagem. A água a correr e a bater nas pedras. O sol a refletir na água. E eu do outro lado da ponte. À espera que respires fundo outra vez e decidas vir.
Vejo a mesma paisagem que tu. Só de uma perspetiva diferente. Vejo-a de terra, não da ponte. Tenho medo dela. E tu sabes. Sabes que é o único sítio onde terei medo de te ir buscar.

E não vou. Desta vez tens de ser tu a respirar fundo e a vir ter comigo. A deixar essa paisagem para experimentares outra. Comigo.
  
Sabes onde estou. Vês-me de onde estás. Respira fundo e vem.

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