Era

Ele era meu.
O olhar dele era meu.
Se a sala estivesse cheia de gente, mesmo que fosse a situação mais solene de toda a nossa vida, o olhar dele desviava-se para mim. E o sorriso que não conseguia evitar denunciava-nos. Ele era meu. E eu era inevitável e indubitavelmente dele.
E aquele sorriso - ai aquele sorriso - era difícil de se mostrar. Menos comigo, dizia. Um pequeno piscar de olhos, um semi sorriso e toda a sala sabia que tinha deixado de existir. Fosse a situação mais frívola do mundo ou a mais solene. Quando os nossos olhares se encontravam não havia volta. Era um mundo novo. E quem estava ficava feliz por ter assistido a tal fenómeno. Eramos nós.
Um nós tão nosso e tão de todos que raramente nos tocávamos sequer quando em público. Mas todos sabiam que eu trazia comigo um bocado daquele sorriso.

E no momento em que eu entrava pela porta, ele olhava-me como se me olhasse pela primeira vez de novo. Como se, mesmo totalmente despenteada, eu fosse a mulher mais bonita que alguma vez vira. E não era necessário sequer ocupar o lugar vago ao lado dele. Já nos tínhamos encontrado. No segundo em que eu abrira a porta já os nossos sorrisos sabiam que se iam encontrar. E saber que o ia encontrar já era razão suficiente.

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