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A mostrar mensagens de 2013

Entre as palavras e os olhares

Ele estava sentado. Tinha os joelhos junto ao queixo e olhava o mundo como se tentasse perceber o que tanto o fascinava naquela encruzilhada de pessoas estranhas mas tão parecidas. Ela estava de pé, e olhava o mesmo mundo com um olhar confiante de quem o vai transformar. Viam-se há muito tempo, conheciam-se há pouco. Muitas horas e poucas palavras; muitos olhares que falavam mais do que palavras. Foi assim que se conheceram. Esqueceram as palavras. Fixaram olhares.

Há amores e amores

Há amores que não são para serem vividos. São para serem olhados, cheirados, tocados, mas não vividos. Amados até, se forem dos bons. Há amores que fazem sorrir e chorar, e descobrir coisas que nunca pensamos serem feitas para nós. E fazem-te ver o dinheiro de maneira diferente, a família, os animais, a comida, as ruas. Uma cidade inteira. Há amores que fazem uma cidade nossa. Há amores que fazem sentir saudades do cheiro de um metro quadrado, mesmo antes de ele deixar de existir. Há amores que só começam a fazer sentido quando acabam. Há amores que só são amores depois de acabarem. Há amores que fazem esperar uma noite. E há amores que merecem uma vida.             Há amores - os bons, quase perfeitos - que não são para serem vividos.

Uma viagem invulgar

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Hoje entrei no comboio e só na paragem seguinte me permiti relaxar. Respirei fundo, limpei o resto das lágrimas que lembravam a última conversa com a Inês antes da viagem, e deixei o corpo moldar-se ao banco desconfortável do comboio. Olhei para um recruta que falava mais alto do que os restantes. Já o conheço. Encontro-o todas as semanas. Quase um contrato que temos. Mesma carruagem. Mesmo comboio. Já me é familiar. Hoje até esboçou um sorriso. Lembro-me de pensar que ele deixa a semana dele para trás e parte feliz para visitar a sua família. Decidi fazer o mesmo. Pensei que tudo ficaria longe de mim por uns dias. Por momentos o coração conseguiu respirar um pouco e eu quase sorri. Fechei um pouco os olhos e abri-os quando a senhora disse “Próxima paragem: Aveiro”. Acordo sempre ao som deste aviso. O corpo já deve estar habituado a ficar alerta por volta daquela hora. Gosto daquela estação. É-me familiar. Já lá fui muito feliz. O recruta levantou-se para respirar ar fresco e log

Uma ponte. Meio caminho.

Vem ter comigo. Vem. Procura-me. Vem. Porque só assim vais perceber o quão longe caminhaste nessa estrada que não vinha até mim. Por isso, anda. Desta vez segue as placas, as indicações. Não te ponhas a olhar para os pássaros. Do meio das folhas eles podem parecer muito bonitos. Irresistíveis. E distrais-te a assobiar belas melodias para eles. E quando se cansam ou tu tropeças numa pedra e trocas uma nota, voam. E como são todos parecidos, nunca mais te lembras para qual cantavas. E mais à frente encontras um monte de placas. Mas em vez de lhes prestares atenção, sentas-te para descansar. E no momento em que te sentas, as nuvens captam a tua atenção. As placas que te levavam a mim? Estão lá atrás. O caminho para mim. O caminho para ti. Cada vez mais longe. Construo uma ponte, para poderes voltar ao sítio certo. Um atalho. E como eu tenho medo de pontes. E construí uma só para ti. Olhaste para ela e foste até meio. E a meio paraste. Respiraste fundo e ficaste a apreci