Uma viagem invulgar
Hoje entrei no comboio e só na paragem seguinte me permiti relaxar. Respirei fundo, limpei o resto das lágrimas que lembravam a última conversa com a Inês antes da viagem, e deixei o corpo moldar-se ao banco desconfortável do comboio. Olhei para um recruta que falava mais alto do que os restantes. Já o conheço. Encontro-o todas as semanas. Quase um contrato que temos. Mesma carruagem. Mesmo comboio. Já me é familiar. Hoje até esboçou um sorriso. Lembro-me de pensar que ele deixa a semana dele para trás e parte feliz para visitar a sua família. Decidi fazer o mesmo. Pensei que tudo ficaria longe de mim por uns dias. Por momentos o coração conseguiu respirar um pouco e eu quase sorri. Fechei um pouco os olhos e abri-os quando a senhora disse “Próxima paragem: Aveiro”. Acordo sempre ao som deste aviso. O corpo já deve estar habituado a ficar alerta por volta daquela hora. Gosto daquela estação. É-me familiar. Já lá fui muito feliz. O recruta levantou-se para respirar ar fresco e log