Um filme quase meu.
Se isto fosse um filme, numa das noites em que adormeço a chorar apareceriam uns segundos pretos e eu acordaria dez anos depois. Estaria a fazer a minha vida normal. Se calhar teria mudado de cidade e de emprego. Estaria longe dele, se calhar. Tê-lo-ia esquecido, se calhar. Pelo menos teria parado de chorar. Podia ter um cão em vez de uma família. E beberia leite frio de um copo grande que ficaria sempre em cima da mesa, para o arrumar quando voltasse a casa, sozinha, ao final do dia. Podiam mostrar-me a passear pelo jardim com aqueles copos de café e com o cabelo penteado, apesar do vento. E podiam mostrar os segundos em que o mundo pararia porque fui contra ele. Tinha um saco de compras ao colo e estava ao telemóvel com a mãe, que liga todos os dias… E se fosse um filme, apaixonávamo-nos outra vez, ou perceberíamos que nunca deixámos de o estar.