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enquanto isso, o alpendre faz-me companhia...

E ali estava ela, sentada no alpe ndre, à espera dele. O sol começara a descer e já havia uma pequena brisa que a incomodava. Mas ela não desistia. Queria vê-lo chegar, sentir o seu coração tremer assim que visse a sua sombra ou ouvisse os seus passos. O sol pôs-se e ela não mexia um músculo com medo que o barulho do seu corpo a impedisse de o ouvir chegar. A lua já beijava as estrelas e ele ainda não tinha chegado. Interrompendo o seu romance, falou com elas a noite toda. O sol voltou de novo e ela, que tinha resistido à gélida noite, ainda estava no mesmo sítio, à espera de uma promessa antiga: no primeiro dia do mês quente venho para te beijar. Quando o sol já estava a olhá-la de cima, levantou-se e foi para dentro. O sol chorou, as flores adormeceram e a água calou-se porque tinha morrido mais um amor. Ela voltou pouco depois com um casaco e sentou-se no mesmo sítio.

um passo ao lado, um amor perdido.

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E passamos dias, e horas, a percorrer uma cidade tão nossa como deles. E passamos horas e dias a fingir algo que não somos. E beijas-me e sorris para mim. E vicias os meus lábios e os meus olhos. E quando já estão totalmente viciados, quando já não conseguem percorrer uma cidade sem te verem ou sem te tocarem, dás um passo, e este não é em direcção a mim, que neste momento já ganhei lance na descida e já corro para ti. E dás um passo para longe.   Alguém me apanha, do chão ou lá ao fundo, onde finalmente consegui parar. E tu continuas a sorrir para mim e a chamar-me. E volto a correr para ti. E voltas a dar um passo. E penso que um dia me vou cansar e vou dizer-te que espero por ti aqui, mas que não corro mais. Que um dia me vou cansar e vou dizer-te "Corre tu até aqui", porque a distância que nos separa é a mesma e as tuas sapatilhas não estão tão gastas como as minhas.         E penso em tudo isto enquanto corro para ti outra vez. E sei que vou pens...

(...) uma maior de coisas ainda melhores.

Sentei-me na estação, à espera de um comboio que não sabia se ia chegar. E quando te pões nesta situação, pensas em tudo menos naquilo em que devias focar a tua atenção. Ao olhar à minha volta vi um rapaz. Bonito. Meio loiro. E comecei a pensar que às vezes há a tentação de pensar "com ele seria mais fácil". Com ele seria tudo do zero, seriam mais dois meses de fantasia - aquela do início, quando tudo é novo. Seriam mais dois meses a ouvir os pássaros cantar no parque - mesmo que chova torrencialmente e tu nem tenhas saído da cama. Há essa tentação. Ele é mais divertido.  NÃO!  Simplesmente ele ainda não sabe os teus defeitos. Ainda não sabe o que o chateia em ti. E apercebo-me que não prefiro isso. As relações de algum tempo, às vezes, tornam-se complicadas e cansativas, porque já sabemos algumas coisas más da outra pessoa. Porque somos forçados - quer queiramos ou não - a aprender algo novo todos os dias. Bom ou mau. Mas eu acho que prefiro isso. Prefiro já ter...

Uma cama do nosso tamanho.

Se partires de manhã, dá-me apenas um beijo na testa. Não me acordes. Nunca gostei das tuas costas, muito menos vou querer vê-las uma ultima vez. Um beijo na testa chega para eu perceber que não vais voltar. E foi o melhor beijo que me deste. Um beijo de despedida. Na testa. E eu acordei. E fiquei a pensar quem te acordaria no dia seguinte. Quem te abraçaria na manhã seguinte. Acordei umas horas depois e decidi que ia levantar-me. Que ia ser de ferro e ia ser a mão, o pé, a cabeça, mas nunca o coração. Não hoje. Hoje não quero ser o coração. Dei-te um nome, um dia. Só eu o sei. É ele que te vai abraçar amanhã. Eu não. Eu já não sou o coração. E voltas do nada, como se tivesse sido um sonho, como se nenhuma palavra tivesse voado, nem nenhuma lágrima tivesse teimado em cair. O que eu faço? Arrasto-me para o lado. Estive a aquecer o teu lado da cama. E penso que da próxima vez que me deres um beijo na testa, vou comprar uma cama mais pequena.

Não te prefiro.

E quando as memórias não chegam, quando precisas de objectos para te lembrares dele e do seu cheiro. Quando olhas para as tuas mãos e não consegues ver as dele ou quando te vês ao espelho e não o vês nos teus olhos… Sabes que largaste a mão, que o deixaste partir, que o deixaste voar de ti. E agora é livre. És livre, ouviste? Sai daqui, voa. E, por favor, não voltes se não quiseres contar os dias pelos dedos comigo. Ou se desenhar no vidro embaciado do carro não for divertido para ti. Não voltes se duas gotas a competirem entre si pelo final do vidro não forem emocionantes. Se não conseguires fazer uma gargalhada acompanhar uma lágrima porque escrevi o teu apelido depois do meu, por favor, não voltes. Voa. Porque se não consegues ser feliz ao meu lado, prefiro-te longe. Não te prefiro.

Viagem,

E fazem os planos da viagem juntos. Embarcam juntos e vêem os primeiros nasceres do sol juntos. Mas lá no meio o mar é mau e faz o barco balançar. Os medicamentos para o enjoo não resultam e já não vêem o nascer do sol juntos. E um dia acorda e é só ela no barco. Já não são dois, apenas um. Nesse dia não há nascer do sol. Só um barco e uma costa e ela promete-lhe que a verá em breve, mas é só um a remar.

Eu esperei.

Esperei por ti como quem espera por uma criança que insiste em subir as escadas agarrada ao corrimão, sem ajuda. Esperei por ti como quem espera por uma carta que sabe que só chega daqui a 3 dias. Não interessa como. Eu esperei.